Marido e Outros Contos (recolocação/reimpressão)
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*Por unidade - IVA 6%Marido Mas há noites em que o marido não chega às sete, nem às oito, nem às nove. E se não chegar às dez, ela sabe que não chegará senão de madrugada. É por isso que a hora crucial da vida da porteira... Ver mais
Marido
Mas há noites em que o marido não chega às sete, nem às oito, nem às nove. E se não chegar às dez, ela sabe que não chegará senão de madrugada. É por isso que a hora crucial da vida da porteira acontece entre as cinco e as sete. É dentro desses minutos decisivos da tarde que se dita o dia e a noite da porteira. A porteira aos cinco para as cinco acende a vela, põe as mãos pedindo que ele chegue antes do jantar.
Uma maçada se ele só vier de madrugada. Já ela o ouve tocar, depois de subir, abrir a porta do elevador com dificuldade, sair de lá lentamente com o pé rígido, e depois a chave começa a cair junto da porta, sente levantá-la do chão, deve estar a revolver a chave, até que por fim ele a enfia, a roda, a desprende, a saca, fica dentro de casa e a casa se enche do seu hálito até às bacias e às janelas. Tropeça no sofá da saleta e chama - Lúcia! Ó Lúcia!
Sobre a autora: Lídia Jorge
Romancista e contista portuguesa, Lídia Jorge nasceu em 1946, no Algarve. Viveu os anos mais conturbados da Guerra Colonial em África e foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social. Além de professora do ensino secundário, publica regularmente artigos na imprensa. O tema da mulher e da sua solidão é uma preocupação central da obra de Lídia Jorge, como, por exemplo, em Notícia da Cidade Silvestre (1984) e A Costa dos Murmúrios (1988). O Vento Assobiando nas Gruas (2002) é mais um romance da autora e aborda a relação entre uma mulher branca com um homem africano e o seu comportamento perante uma sociedade de contrastes. Seu livro "O Dia dos Prodigíos" (1979) encerra uma grande capacidade inventiva, retratando o marasmo e a desadaptação de uma pequena aldeia algarvia. Em reconhecimento à sua obra, Lídia Jorge recebeu diversos prémios, incluindo o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 2003 e o Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas em 2020.