Amadora 1971-2020 - A cidade que não existia
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*Por unidade - IVA 6%Ali, mesmo ali, da sua janela, ele via a Ribeira da Falagueira, onde um êxodo urbano dos anos 60 tinha desaguado humanos em busca de vida melhor. Com a esperança depositada nas promessas de industrial... Ver mais
Ali, mesmo ali, da sua janela, ele via a Ribeira da Falagueira, onde um êxodo urbano dos anos 60 tinha desaguado humanos em busca de vida melhor. Com a esperança depositada nas promessas de industrialização feitas por um regime moribundo, estes migrantes viram‑se a morar em barracas junto a um fio de água que atravessava uma ‘cidade que ainda não existia’. O fotógrafo — que já existia, com as suas rotinas, o seu dia‑a‑dia — foi pacientemente fotografando esse choque, esse corte entre a sua vida de rapaz que fora para Lisboa em busca de emprego e os «outros » com quem se cruzava — aqueles que não vemos, os invisíveis. […]
Este não é um livro de imagens (só) sobre a Amadora. É um retrato de Portugal e dos portugueses. Revejo aquelas caras dos anos 70 na minha Escola Primária do Alentejo, todos índios, sujos e (sejamos sinceros) um pouco ranhosos. A pobreza era o denominador comum — sendo que havia um grande fosso entre o ‘remediado’ e o pobre, entre a janela do apartamento e o outro lado da ribeira. Estes são os portugueses de antes, mas também os de hoje. Nos anos 70, Alfredo fotografou na Amadora um país que já não podia existir, mas que teimosamente queria estar só no mundo. Voltou 50 anos depois para fotografar o país a ser, a rir — a querer ousar. Apanhou um país suspenso, num pânico enclausurado — a antítese do que quer para o seu trabalho. Viu ruas sem gente, caras tapadas por máscara e sem expressão, aquele momento em que se está a cair no abismo e ainda não se sabe como vai ser o impacto.»
– Luís Pedro Nunes